terça-feira, 7 de setembro de 2010

Bilinguismo na Primeira Infância



Não existe consenso quanto à idade ideal para iniciar a aprendizagem de uma língua estrangeira. Krashen (1982) estabelece uma distinção clara entre aprendizagem e aquisição. A aprendizagem refere-se ao estudo formal - receber e acumular informações e transformá-las em conhecimento por meio de esforço intelectual e de capacidade de raciocínio lógico. Em contrapartida, para ele, aquisição é desenvolver habilidades funcionais através de assimilação natural, intuitiva e inconsciente nas situações reais e concretas de ambientes de interação humana. Portanto, no desenvolvimento da proficiência em línguas, o que deve ocorrer é a aquisição. Ele defende a maior importância da aquisição sobre a aprendizagem, referindo-se a adolescentes e adultos. Considerando que a aquisição está mais intimamente ligada aos processos cognitivos do ser humano na infância, deduz-se que a aquisição é ainda mais preponderante no caso do aprendizado de crianças. Portanto, a proficiência lingüística pouco depende do conhecimento armazenado, mas, sim, da habilidade assimilada na prática, construída através de experiências concretas. Novamente, fica com mais clareza explicada a superioridade das crianças no aprendizado de línguas. Não são apenas fatores de ordem biológica que influenciam no aprendizado de uma língua estrangeira. Fatores de ordem psicológica e afetiva podem causar impacto direto na capacidade de aprendizagem. A criança, por natureza, tem um alto grau de curiosidade pelo desconhecido e forte sintonia com tudo no ambiente que a rodeia.


Portanto, ao ministrar aulas de língua estrangeira para crianças, deve-se proporcionar um ambiente tal que a aquisição ocorra de maneira natural. É como brincar com um bebê. Ele passa a prestar atenção aos sons quando começa a balbuciar ba, ba, da, da... a partir daí está treinando os fonemas básicos da língua. Assim como o primeiro contato com a LM (Língua Mãe) se dá por meio da mãe, o primeiro contato com a LE (Língua Estrangeira), na maioria das vezes, se dá por meio do/a professor/a. Ao que parece ambos têm um poder decisivo para o futuro da língua, que pode resultar numa comunicação apropriada que transmita senso de lógica e causalidade ou deixar tudo no nível obtuso do incompreensível.

Da mesma forma como aprende a primeira língua, a criança tem aptidão para desenvolver outras línguas. Após o aprendizado da escrita e da leitura, a assimilação de um segundo idioma se dá de forma mais facilitada e tranqüila. É claro que quanto mais cedo, melhor. Caso contrário, o aprendiz usará com mais relevo a estrutura da primeira língua, ao invés de raciocinar no segundo idioma e, com isto, irá se utilizar mais longamente da pura e simples tradução, se arrastando por mais tempo até conquistar o desejável estágio da fluência.

Levando em conta os fatores biológicos, pode-se também dizer que, numa criança os dois hemisférios do cérebro (o lado esquerdo ligado ao raciocínio lógico e analítico e o lado direito enquanto responsável pela parte criativa, artística e pelas emoções) estão mais interligados do que no cérebro de um adulto. Por isto, a aprendizagem é mais fácil no período anterior a lateralização do cérebro.


Ao interagir com o meio, a criança aprende a falar, ou seja, a aquisição da fala e a descoberta do mundo são dois processos que ocorrem ao mesmo tempo e, como tal, as estruturas neurais do cérebro que correspondem aos conceitos são adquiridos e associados às formas linguístico-comunicativas. Sendo assim, as crianças desenvolvem-se cognitivamente a partir de experiências concretas e da percepção direta, ao contatar com o meio que a circunda.

Tendo em vista todos estes fatores, pode-se dizer que a idade considerada ideal para o início do ensino de línguas estrangeiras é antes dos oito anos de idade.


Para Strecht-Ribeiro (1988:22), “o contato com uma outra língua não só é compatível com o domínio da língua materna, como ainda a favorece”. De fato, o bilinguismo ajuda as crianças a perceberem melhor a sua língua materna, uma vez que, assim, as crianças têm a oportunidade de comparar uma língua e a outra. Este processo não implica uma memorização de conhecimentos, mas, pelo contrário, implica uma automatização dos mesmos, como em um processo natural de aquisição.


O ensino precoce de línguas estrangeiras tem um papel preponderante para a construção de cidadãos autónomos, críticos e participantes, capazes de atuar com competência, confiança e responsabilidade na sociedade em que vivem.


A aprendizagem de línguas estrangeiras promove um desenvolvimento de uma atitude global, servindo o estudo das língua e cultura estrangeiras como meios de desenvolvimento da competência intercultural do indivíduo. Desta forma, esta aprendizagem precoce permite igualmente expandir os horizontes quando no contato com línguas e culturas diferentes, desenvolvendo uma consciência do Outro, no sentido de uma sensibilização à diversidade linguística e cultural, o que, por sua vez, fomentará uma aprendizagem futura, preparando o terreno para um ensino plurilingue a um nível mais avançado e promovendo confiança no sucesso da aprendizagem de línguas estrangeiras ao longo das vidas das crianças. Em outras palavras, a introdução precoce de uma língua estrangeira num ensino considerado precoce ajuda as crianças a desenvolver a tolerância para com outros povos que lhes são diferentes e permitir a compreensão entre indivíduos.


Texto de Isabela Sandoval adaptado por Paula Lyra – Maio de 2010

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